O convite do Arnesto.
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- 26 de nov. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de dez. de 2021
Gustavo Dedivitis*
Em 1953, quando o imortal compositor Adoniran Barbosa compôs o Samba do Arnesto, que incluiu o bairro do Brás na antologia da Música Popular Brasileira, São Paulo tinha pouco mais de dois milhões de habitantes, mas ostentava o título de “Cidade que mais cresce no mundo”, exaltado com ufanismo na imprensa, nas emissoras de rádio e na recém-inaugurada TV. E a metrópole fez jus ao bordão: em 2021, segundo a estimativa populacional mais atualizada do IBGE, somos 12,33 milhões de paulistanos.

O ritmo acelerado da expansão demográfica, ditado pela fulminante industrialização e um imenso fluxo imigratório, atropelou o planejamento urbano. O município cresceu desordenadamente. Por isso, sofre hoje a carência de espaços públicos de lazer, cultura e convivência acessíveis à maioria de sua população. Se não foi possível atender a essa demanda de modo adequado nos últimos 70 anos, podemos – e devemos! – buscar alternativas viáveis. Para isso, não cabe resignação ante uma questão de interesse coletivo e esperar soluções sempre prontas de um Estado paternalista.
Mais do que nunca, a sociedade está empoderada. Assim, é importante que seja protagonista de propostas capazes de melhorar o cenário urbano da capital paulista. Uma delas brota exatamente no Brás, numa parceria entre o poder público e o setor privado, podendo servir de referência para a multiplicação de projetos semelhantes na capital paulista e em outras metrópoles brasileiras. Trata-se do boulevard da Rua Tiers, com 600 metros de extensão, entre a João Teodoro e a Conselheiro Dantas. Será um grande calçadão de nove mil metros quadrados, com fios elétricos enterrados, paisagismo, cobertura ecológica para proteger contra sol e chuva e muitas áreas para passeio, convivência, lazer e compras.
O local proporcionará segurança e conforto aos frequentadores. E estes são milhares! O Brás é uma síntese paulistana. No século passado, recebeu os italianos. Depois, os árabes, nordestinos, coreanos e, mais recentemente, os chineses. Todos se estabeleceram no bairro, onde desenvolveram um dos maiores polos de comércio do mundo, principalmente de roupas. Diariamente, recebem imensa população flutuante, constituída pelos colaboradores das empresas e empreendedores de todos as regiões da cidade, dos municípios do interior paulista, de diversos estados brasileiros e até de outros países, que compram no Brás visando abastecer seus próprios negócios, gerando emprego, renda e movimentando a economia.
Pluralista como tudo deve ser em um município construído por imigrantes, o Boulevard do Brás será um espaço público e inclusivo, aberto a todos, que proporcionará conforto, segurança, comodidade e acessibilidade às centenas de milhares de pessoas que visitam nosso bairro. Um autêntico espelho da metrópole mais empreendedora do Brasil, por onde pulsarão sonhos, projetos e oportunidades para quem estiver disposto a correr atrás. E, o mais importante, será um local aberto, de todos os paulistanos, assim como devem ser as ruas e calçadas de nossa metrópole.
No maior centro comercial da América Latina, que agora terá uma estrutura física e urbanística condizente com seu porte, há oportunidades para todos. É ótimo que seja sempre assim e que o modelo expanda-se na cidade, como prevê a administração municipal, num plano mais amplo de reurbanização e implantação de ruas temáticas.
O Boulevard do Brás faz uma releitura contemporânea do Samba do Arnesto. Convidamos todos a compartilharem o novo espaço do paulistaníssimo bairro, que deverá estar concluído em 2023. Porém, ao contrário do famoso personagem da música de Adoniran, que chamou a galera para uma roda de samba e deu o cano sem avisar, estaremos sempre lá, em nossas lojas, galerias e shoppings, de braços e portas abertos, felizes em ter um espaço revitalizado e que ao povo pertence, como convém aos locais públicos.
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